Você operou no mercado com a sensação de estar “batendo fora do bumbo”? Provavelmente, é a primeira vez que você ouve esse tipo de expressão no trading, mas ela faz total sentido para algumas situações que vivemos no mercado.
Para você compreender o que quero dizer, gostaria que imaginasse um momento em que, após estudar a movimentação do preço e as notícias do dia, você se convence que o mercado será de alta. Ao formar esta convicção, são dois os cenários possíveis: 1) o mercado se comporta como previsto e uma sensação de euforia e confiança passam a te acompanhar no resto do dia, ou 2) o mercado não se comporta da forma prevista e você é invadido por um turbilhão de emoções negativas, basicamente composto por medo, frustração, ansiedade, etc.
Em qual dos cenários você diria que está batendo fora do bumbo? A resposta correta é os DOIS. Sim, fiz essa pegadinha para chamar sua atenção a um fato específico: em ambas situações, o trader atuou com base em sua expectativa pessoal, sem qualquer relação com o que acontece, de fato, no mercado. É isso o que chamamos de “bater fora do bumbo”.
O conceito “in the zone” foi criado pelo trader americano Mark Douglas. De acordo com ele, o operador atua in the zone quando não se deixa levar pela emoção, isto é, opera sem se importar se o preço vai subir ou cair, fluindo com qualquer movimento que o mercado apresente. Nesse estado, o autor afirma que o trader se encontra com a mente alinhada ao momento presente, fato este que o coloca em condições de aceitar qualquer tipo de movimentação, sem ficar emocionalmente abalado.
Ao contrário do que é ensinado na literatura, não é preciso prever a direção do mercado. O bom trader é aquele que reage aos movimentos que o próprio mercado realiza.
Sempre que tentamos adivinhar o que o mercado fará, criamos uma expectativa que nos compromete com o resultado. Quando essa expectativa não é atingida, surge um sentimento de frustração que acaba se transformando em medo. E esta é precisamente a origem do medo de operar.
Legal, André, mas como é que consigo operar sem expectativa?
Não é algo que se consiga colocar em prática do dia para a noite, mas no meu caso foi observando os efeitos da agressão. De forma resumida, agressão é a execução de uma ordem no mercado, onde uma das partes aceita o preço ofertado pela outra. É a agressão que gera o negócio. Nesse sentido, quando um participante deseja comprar e aceita pagar o preço que o vendedor está pedindo, dizemos que há uma agressão de compra e o agressor é comprador (foi ele quem deu “o fechado” na negociação). Da mesma forma, quando alguém precisa vender e aceita o preço que o comprador está disposto a pagar, dizemos que houve uma agressão de venda e o agressor é o vendedor.
Ao analisar os efeitos decorrentes da agressão, comecei a notar que não atuava sozinho no mercado. Junto comigo, havia outros participantes também e alguns deles mostravam um capital financeiro muito maior que o meu, pois agrediam mais de um nível de preço. Consequentemente, essa atuação persistente acabava colaborando com o deslocamento do preço.
Na medida em que fui aprofundando esse tipo de análise, a do fluxo de ordens enviado ao mercado, passei a ter uma sensibilidade maior, quase que um termômetro real do que está acontecendo no mercado. E só depois de começar a analisar os efeitos da agressão é que consegui parar de prever a direção do mercado e começar a reagir aos dados presentes.
Essa foi a única forma que encontrei de não me envolver emocionalmente com as cotações. Depois que incorporei esses conceitos, me peguei várias vezes vendo o mercado subir ou cair forte no dia sem me ancorar em nenhum preço. Também não estava frustrado por não ter adivinhado para onde o mercado andou e nem incomodado por não estar ganhando dinheiro com aquela oscilação.
Isso só foi possível porque não estava fora do bumbo. Minha mente estava alinhada com o momento presente. Eu estava em aceitação total com as altas e baixas do mercado.
Eu particularmente me atento para alguns sinais típicos que deixam claro que estou fora da in the zone. São eles: irritação, frustração, ficar nervoso, bater na mesa, xingar o mercado (sim, eu também faço isso algumas vezes), xingar um determinado player, etc. Não há dúvida, sempre que começo a ter esse tipo de atitude é certo que não estou com a mente alinhada ao mercado.
Na verdade, os “sintomas” anteriormente descritos acabam diagnosticando o principal erro de um trader: o ato de querer do mercado. Não temos controle e nem meios de induzir o mercado a se comportar da forma que desejamos. Na realidade, somos nós que nos adaptamos ao que ele oferece.
Operar in the zone é aceitar essa realidade. Você está ali, totalmente disponível para o mercado, sem querer absolutamente nada, esperando a próxima oportunidade que ele der, seja ela qual for. E um detalhe: se ele der, ótimo. Se não der, paciência, amanhã é outro dia.
Eu acredito fortemente que a melhor forma de entrar in the zone é operar sob a ótica de uma perspectiva coletiva e se ater não só ao que você está fazendo, mas também ao que os demais participantes procuram no mercado. É a força coletiva que faz as cotações atingirem novos patamares e, estudando a agressão, esse tipo de compreensão fica bem mais evidente. Por isso, mais uma vez ressalto a importância de estudar e incorporar a análise de fluxo de ordens ao seu operacional. Certamente ela fará enorme diferença nos seus resultados.
Espero que tenha gostado de mais essa sacada e que ela possa contribuir com sua evolução. Ao menos para mim e para outros traders, ela foi determinante.
Então é isso aí… espero que tenha gostado do artigo!
Grande Abraço e Atitude Vencedora,
André Antunes